
Você consegue abrir mão de fazer coisas?
Anália Freitas
2/18/20252 min read
Para mim é muito difícil abrir mão de fazer coisas, sabe?
Eu não sou apegada a pessoas, coisas ou lugares… é claro que eu amo os meus amigos, familiares e gosto de estar perto, há os lugares que eu gosto de ir, e minha casa é um espaço de conforto. Mas eu não sou apegada como quem diz coisas do tipo “não consigo viver sem isso”. Por outro lado, abrir mão de uma tarefa ou de um estudo é MUITO DIFÍCIL.
Levou muito tempo para que eu pudesse entender que esse apego ao fazer possuía diversas origens, e que me fixaram em um padrão traumático: nada que eu fizesse era suficiente. Nem bom, nem o suficiente. Se num determinado período de tempo eu leio dez livros, será preciso ler doze, pois dez ainda é muito pouco; se faço um curso, preciso fazer outro, pois um só não me ensinou tudo o que o que preciso.
É preciso estudar mais, trabalhar mais, para ser “alguém na vida”, para ser querida, amada, desejada. Essa foi a forma como interpretei as mensagens ouvidas - e vistas - no meu seio familiar. Essa é também a mensagem que o patriarcado passa para as mulheres e para as pessoas que não nasceram ricas - dois grupos nos quais eu me incluo.
Quando eu olho para minha vida HOJE, para as coisas que eu faço - ainda são muitas! Eu tento equilibrar entre hobby e trabalho, eu percebo que existe ainda uma dificuldade de colocar as coisas em seus devidos lugares. Existe, ainda, uma dificuldade em abrir mão de algo que não vai ser possível fazer agora, hoje, esse mês, esse ano, porque tenho outras prioridades
E quando a gente não prioriza, quando a gente faz coisas além da nossa capacidade, além do cansaço, a gente sente uma grande frustração e uma ideia - distorcida - de que não está realizando. Mas observe: se eu tenho capacidade de fazer três coisas e coloco dez, são sete coisas sem fazer, muito mais coisas desejadas, ou iniciadas e não finalizadas do que aquelas que realmente eu dou conta de fazer.
Esse texto é para te lembrar de que abrir mão pode ser bem difícil, mas é mais difícil viver sobrecarregada e frustrada por conta de algo que estava fora das suas condições humanas de realização. Quando nos mantemos nesse padrão de fazer mais coisas, de ajudar mais, de ocupar mais o nosso dia, só vai nos levar de volta para aquilo que a gente está tentando fugir com esse comportamento: o sentimento de frustração e insuficiência.